9 de fevereiro de 2010

Pra quê que serve isto?

Pra quê que serve isto?

Pra quê que serve isto? Com esta frase, uma profissional do sexo que trabalha em um hotel na Rua dos Guaicurus, hipercentro de BH, queria saber o que levava aqueles “jovens estranhos”, que éramos nós, andando nos corredores do hotel, a pesquisar as mulheres da zona. Esse trabalho de campo culminaria, no ano de 2007, no espetáculo “Hotel Açucenas”, direção de Fábio Furtado, dramaturgia de Pollyana Costa Santos e no qual eu integraria o elenco, juntamente com Lucilene França, Matheus Santanna e, posteriormente, Mário Barro, além, claro, de todas as demandas de produção que eu enfrentaria. Enfim...

Mas, voltando à pergunta acima, o questionamento Daquela mulher levou-me a pensar seriamente no para quê desse penoso trabalho em visitar mulheres, no querer desvendar suas histórias, mas, principalmente, no motivo que levaria estas questões a serem debatidas na cena, tendo ainda um público como cúmplice.

São Jorge, pra quê que serve isto?


Quantas vezes, nós, trabalhadores do teatro, nos deparamos com essa e outras questões cruciais ao nosso ofício? O que nos impulsiona a perder uma vida social que nossos amigos,de outras atividades, podem usufruir, a ensaiarmos exaustivamente até tarde da noite após um longo e cansativo dia de trabalho, a chegarmos em nossos lares e não termos nada para saciar a fome, a perdermos tantas festas de aniversários e outras confraternizações, a pagarmos, enfim, muitíssimas vezes, para podermos viabilizar os nossos espetáculos, para que eles não fiquem somente no plano das ideias?

Naquele dia, parada na porta de um quarto fedendo a cigarro e a perfume, achei engraçada a pergunta Daquela mulher, que nos questionava, com seus grandes olhos, no motivo do nosso interesse por aquelas vidas que “desfloreciam a cada dia” naquele lugar e, ao mesmo tempo, vidas tão peculiares, histórias tão interessantes...

No entanto, ela considerava a todos nós pessoas “excêntricas”, por disponibilizarmos a caminhar por aqueles hotéis e querermos desvendar seu tempo passado, presente, e por que não, futuro... que futuro talvez, estivesse reservado, à elas e a nós do teatro!

Pra quê que serve isto?

Hoje, esta pergunta reverbera fortemente em mim, cada vez que tenho que optar em seguir adiante no ofício de atriz... O que conduz a cada de um de nós, na senda teatral? O que aconteceria se todos os atores do mundo morressem ou simplesmente desaparecessem?
Será que, além de nossos familiares e amigos, a sociedade sentiria a nossa falta, faria um minuto de silêncio sequer, a todos os loucos desbravadores do teatro?

Pra quê que serve isto?


Não sei, acredito que não. Ao mesmo tempo, uma força, quase sobrenatural, nos sobrepuja à luta diária, a não deixar que os sonhos fiquem no “etéreo” e que uma nova maneira de ver, pensar e posicionar no mundo possa conduzir a todos nós, a um lugar melhor, um espaço onde não há espaço para a mediocridade, onde a lei do “menor esforço”, ou “ganhe vantagens a qualquer preço”, “traia o seu melhor amigo, se preciso for”, ganhe lugar na sociedade.


Talvez o teatro seja um dos poucos lugares, onde verdades, não as científicas, possam ser reveladas. Verdades que possam pertencer a cada de um de nós, ao coletivo e, portanto, pra isto que serve o teatro.

Michelle Ferreira
Guerreira de São Jorge.

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