4 de outubro de 2008

Sobre o registro..

Há muito tempo perdi o hábito de deixar registrado nesse espaço impressões sobre meus trabalhos e sobre a produção cultural de BH.
Por isso esse registro é para falar um pouco sobre a importância do próprio registro na arte: escrever sobre processos de criação e seus resultados (parciais ou não); é um hábito pouco arraigado entre nós na artistas! E quão importante é deixar o registro de nossos trabalhos, principalmente em se tratando do teatro, a arte efêmera por natureza!
Registrar é deixar um pouco da história de cada um de nós, da luta de um coletivo por fazerem-se artistas em uma sociedade preocupada o tempo todo com bens palpáveis, e não bens para o bem estar da alma!
Deixar também a marca de nossos caminhos, seus erros e acertos e, quiçá, que isso sirva de caminho para outros artistas.
Deixemos a preguiça de lado e passamos à reflexão de nossas felicidades e angústias na arte para a caneta e o teclado!!!
Salve Jorge todos os artistas!

13 de agosto de 2008

Divagações

Vento...
contemplo o pensamento que escapa da dor
a certeza de ser artista é de estar preparado para tudo (até mesmo o nada)
e de às vezes estar só em suas empreitadas
nem todos lutam por um mesmo ideal não é mesmo?
(em tempos pós-modernos o ditado é "salve-se quem puder")

4 de julho de 2008

Hotel Açucenas no Festival de Inverno de Diamantina

Para aqueles que não puderam comparecer à nossa última temporada:
"Hotel Açucenas" no Festival de Inverno da UFMG em Diamantina
Terça-feira dia 22 de julho às 21:30h
Teatro Casa da Glória.
Salve Jorge! e ajude-nos a divulgar.

3 de junho de 2008

Promessa divina

Prometo, ao Deus Baco do Teatro,
esforçar-me para que a poesia se faça mais presente na minha vida..
assim como a cena, a escrita, a música.
(o melhor seria eu ser a mulher maravilha, Michas maravilha, eta lerê)

Flores Horizontais...

às vezes algumas canções dizem mais do que mil palavras e cem mil lágrimas!
só isso que eu digo:


Flores Horizontais
Elza Soares
Composição: Oswald de Andrade / Zé Miguel Wisnik
Flores Horizontais,flores da vidaflores brancas de papel,da vida rubra de bordel,flores da vidaafogadas nas janelas do luarcarbonizadas de remédios, tapas, pontapés,escuras flores puras, putas, suicidas, sentimentais.Flores horizontais.Que rezais?
Com Deus me deito.Com Deus me levanto.

29 de abril de 2008

Pelas flores...

Por Isabela... Alices, Marias... todas as singelezas desse mundo que são arrancadas de forma abrupta deixo meu suspiro!
Há algo que se perde no homem cada vez que vejo notícias de pessoas queridas que matam seus inocentes: o afeto pelo que lhe era mais terno...
estupidez desvairada....

11 de abril de 2008

Flor...

Nada a declarar...
apenas sensações póstumas de dever cumprido! Bem cumprido.
Cansaço desabrochado...
ado
cado
falo

31 de março de 2008

Quem bate no Hotel

Ontem de manhã recebo uma notícia: uma das mulheres que pesquisamos e que tornou-se uma de nossas flores iria assistir ao Hotel Açucenas.
Gelo na barriga pois essas mulheres são as visitas mais aguardadas em nosso espetáculo, afinal, o espetáculo foi feito pra elas!
Começo o trabalho e inconscientemente procuro a moça com o perfil da flor... ela está bemà frente do próprio quarto de sua personagem.
Fico pensando que tipo de reflexão ou sentimento deve passar por ela ao se ver retratada ali...
Ao final, ela chora. Corro pra minha amiga que refaz essa mulher que a abraça. Quando vou ao seu encontro amigos correm à conversar comigo.
A perco na Santos Dumont.
Queria tanto poder trocar algumas palavras de gratidão por essa criatura que nos deu esse presente no domingo.
Mas fica uma certeza.. que esse trabalho valeu a pena por a ter tocado de alguma forma...

27 de março de 2008

Por enquanto...

Querido blog diário:
Mil perdões...
Quebrei a promessa de traçar uns rabiscos diários em vc...
Coisas cotidianas práticas me impediram disso.
Prometo depois da temporada e do concurso voltar com força total.
Quero te dizer que a temporada tem sido bacana,
pessoas interessantes e interessadas na platéia;
gente pegando no pé nas instituições burocráticas e arcaicas (com dor no cotovelo)
seleção que foi feita a grosso modo pra um festival...
gente saindo sensibilizada do teatro...
e isso é o que importa no final né?
Beijos e me guarde tá?
Michelle- Me guardando...

10 de março de 2008

Da cena ao que não se formata...

Re-estreamos o nosso espetáculo "Hotel Açucenas" esse fim de semana no Centro Cultural UFMG depois de muito stress, dentro e fora da cena. Fora principalmente com instituições públicas arcaicas desprovidas de um mínimo de sensibilidade para lidar com o humano e artístico de cada um.
Desperto domingo às oito e meia da meia da manhã depois de sonhar a noite toda com a parede do espaço a reformar e que eu precisava procurar pincéis novos para a cena. Meu Deus, é verdade que vivi tudo aquilo ontem em cena?
Por mais que se tenha uma partitura, um corpo, um estado para cada uma das minhas "flores" de personagens, existe aquilo que não é palpável e que se transfigura a cada espetáculo...
Meu Deus, como essa platéia é silenciosa ou como essa é pertubadora, ou como é inquisidora...
Como o que reverbera dentro de mim muda de cor a cada apresentação.
Sábado eu era uma atriz vermelha de guerra, ontem era lilás à procura de mudanças...
Esse trabalho... acho que posso dizer isso aqui, me forçou a mudar para uma outra mulher como nenhuma outra coisa feita antes por mim, pessoinha pequena, que parece uma menina, só parece...
O que se vive em cena é a nossa própria alma em estado de plenitude, é ser tanta coisa e ao mesmo tempo não ser nada, só deixar ser...

3 de março de 2008

Só pra não esquecer...

Dizem que o peixe morre pela boca...
mas quem não chora não mama.
E quem tem boca vai à Roma.
Ou ao Hotel Açucenas!


De 08/03- Dia da Mulher ao dia 06/04- domingo bom
sábados e domingos 19h.


Ingressos a R$14,00 inteira e R$7,00 inteira.

27 de fevereiro de 2008

Buscando forças

Me ajuda São Jorge Guerreiro!
Procuro força viva em minhas personagens... ou será que eu sou delas?
O estado latente de revolta perante aqueles que não compartilham da batalha me deixa sem força.
É muito mais fácil ser só atriz...
muito mais do que ser uma atriz e Guerreira!
Estar na guerra é mais latente do que estar em cena.
E na luta enfraqueço,
enfraqueço e desapareço na cena.
Apenas momentaneamente
o tempo pra recuperar o fôlego
e dizer sim à todo esse sonho de concretude árida.

26 de fevereiro de 2008

3a Feira

Por hoje, paciência e perseverança na luta diária.
A batalha prossegue até ó último aplauso!

25 de fevereiro de 2008

Hotel Açucenas- O Foco do meu momento


No segundo compasso

Nossa gente... a vida cotidiana pós-moderna não nos permite nem pegarmos uma gripezinha e ficar de cama. A danada lascou-me um beijo na 6a feira e tive que trabalhar acompanhada dessa criatura desagradável. Luci, minha amiga na vida e na cena teve um pequeno acidente de moto, tá com joelhinho enfaixado e trabalhando.
A vida não permite tropeços, catarros, vontade de ficar na cama!
Ela diz "vai menina, você tem que resolver essa lista de 567 pendências do dia". E ainda estar com cara de feliz.
Ai se não fosse meu resfenol de cada dia!

22 de fevereiro de 2008

Sexta Feira Santa...

Por enquanto me desaquieto por dentro...
entro na contagem do calendário cristão
e espero, impaciente pelos dias chegarem..
que todos celebrem o momento da festa do teatro de cada dia!


Hotel Açucenas!
Vem aí!Temporada Hotel Açucenas.08/03 à 06/04- sábados e domingos 19hCentro Cultural UFMG- Av.Santos Dumont 174 CentroIngressos: R$14,00 e R$7,00Informações: 91175770

21 de fevereiro de 2008

Enquanto isso, a burocracia dá sinal vermelho!

Bem, se ninguém comenta, é porque talvez ninguém leia minhas reflexões...
Tudo bem, pode ser um espaço interessante de registro virtual.
Quero dizer que as coisas agora se tornam um pouco menos confusas no processo de re-montagem do Açucenas.
A grande questão minha gente é realizar espetáculos em espaços alternativos onde o poder público manda.
A Burocracia para se utilizar poucos metros de um estacionamento não movimentado é tanta que se cada um dessa equipe não quisesse MUITO estar nesse trabalho, eu, sinceramente não sei se prosseguiria.
As instituições públicas, enquanto não abrirem realmente o "canal de comunicação" com o grupos artísticos, será uma instituição arcaica, destinada a fazer sempre a mesma coisa sem que isso contribua realmente para a sociedade....

20 de fevereiro de 2008

Enquanto isso... escorre no outro Continente.

Hoje vi uma foto já vista mundialmente, de uma criança africana agonizando. Ela se arrasta e tenta inutilmente chegar à um campo de refugiados, a um quilômetro dali.
Ao seu lado, um abutre aguarda a morte da criança para que possa comê-la.
O fotógrafo apenas captou a imagem e deixou o sofrimento pra trás.
Depois de ganhar prêmios e vangloriações pela foto, ele se suicidou, em uma crise aguda de depressão.
Meu Deus... quantas vezes não temos a mesma atitude em nosso cotidiano?
Quantas vezes não filmamos, fotogramos a cena na grande cidade e não olhamos pra trás?
Cada vez mais o nosso olhar torna-se um olhar de indiferença.
Isso não quer dizer que devamos pegar o primeiro vôo rumo à Àfrica mas começarmos a intervir em nosso mundo, não apenas sensibilizar e derramar nossas lágrimas mas que realmente atitudes transformadoras possam fazer parte do nosso cotidiano...
Salve Jorge!E dizime toda essa guerra de fome e sofrimento ao redor!

19 de fevereiro de 2008

3a feira

Por hoje ...
me calo e retrocedo.

18 de fevereiro de 2008

Hotel Açucenas!

Vem aí!

Temporada Hotel Açucenas.
08/03 à 06/04- sábados e domingos 19h
Centro Cultural UFMG- Av.Santos Dumont 174 Centro
Ingressos: R$14,00 e R$7,00
Informações: 91175770

Lema de Hoje

Acordar e enfrentar o sol e os sons!
Acordar e batalhar,
Batalhar e acreditar nesse dia como único, necessário e especial!

14 de fevereiro de 2008

Ao Artista do Dia

Acho que no fundo,
o que o bom artista quer ver
não é seu ego se inflando para o público que aqui vem
mas que algo de belo fique após sua passagem na vida
e que possa ser usufruído por todos
que cada bela obra fique de certa forma impregnada na pele das gentes
a memória é um dom precioso
de todo ser humano
e a arte ali quer ficar...

P>S: Perdão caros leitores, eu, uma guerreira pe´no chão às vezes me torno abstrata, aérea.

13 de fevereiro de 2008

Sobre o sol de 4a feira

Resolvi acabar com as neuroses,
Receber o sol e o céu lindo lá de fora,
Ouvir algumas coisas absurdas e depois jogá-las na lata de lixo do pensamento não processado,
Respirar até o último fio de cabelo no desespero
Fazer cara de otária quando assim a conveniência pedir que proceda
Utilizar da licença poética sempre...

11 de fevereiro de 2008

Entre a vida e a cena: relato de um trabalho de campo sobre a prostituição.

Entre a vida e a cena: Relato de um trabalho de campo sobre a prostituição
Michelle Cristina Alves Silva[1]


Quando criança minha avó vendia roupas usadas e eu a acompanhava em um local na cidade de Uberaba, Minas Gerais chamado Gogó da Ema. Aos poucos, pude entender tratar-se de um prostíbulo onde escandalosas mulheres amontoavam-se junto às roupas. Acredito que esse foi o meu ponto de partida no universo da prostituição. Ë por isso que, de certo modo, creio que nossas escolhas artísticas se baseiam sempre em fatos que nos marcaram profundamente, principalmente na infância, e que transpomos para o universo da arte.
Muito tempo depois, estava na graduação do curso de Artes Cênicas da Escola de Belas Artes da UFMG quando adentrei-me no sexto período na prática de montagem do curso de bacharelado ministrada pelo professor Luiz Carlos Garrocho. O foco da pesquisa eram os seres marginais da região do baixo centro de Belo Horizonte, dentre estes, as prostitutas. No trabalho de campo, por várias vezes visitei hotéis de prostituição da rua Guaicurus no centro da cidade onde pude gravar vários relatos. O resultado desse processo criativo culminou com a apresentação do trabalho “Fudidos Intervenção Cênica no espaço urbano” em agosto de 2004 no quarteirão fechado da rua Guaicurus. A direção foi do professor Luiz Carlos Garrocho.
Esse trabalho fomentou o desejo de uma pesquisa mais aprofundada sobre a prostituta. Alguns parceiros que têm uma pesquisa dentro desse universo como Lúcio Barros, sociólogo, Francilins, fotógrafo e antropólogo além de Dos Anjos, presidente da Associação das Profissionais do Sexo de Belo Horizonte[2], permaneceram após a finalização do processo “Fudidos”. Isso tudo impulsionou a elaboração de um projeto para leis de incentivo onde o foco era histórias de vida das prostitutas ou profissionais do sexo, como gostam de serem chamadas; e que resultaria em uma montagem cênica. Em 2005, o projeto foi aprovado na Lei Municipal de Incentivo à cultura de Belo Horizonte.
Trazer esse tema à tona foi sempre um desafio. A sociedade de Belo Horizonte, por mais que saiba de todos os hotéis existentes na rua Guaicurus, prefere ignorar o uso dessas casas antigas. É fato também que a Guaicurus é para a grande maioria das pessoas uma região perigosa, conhecida também pelo tráfico de drogas e por ser onde muitos delinqüentes praticam roubos e assaltos.
Antes de partir para o processo de criação, passei novamente pelo trabalho in loco. Visitas em hotéis, casas de strip-tease e cines pornôs foram realizadas por toda a equipe de montagem: direção, dramaturgia, elenco, cenógrafo e iluminador. Todo esse trabalho tinha o intuito de levar material para a sala de ensaio. Dessa pesquisa, para além das fitas gravadas, ficou em cada um de nós as impressões de cheiros, cores, corpos como mercadorias à venda. Um fato que chamou a atenção de todos foi a quantidade considerável de homens pelos corredores, em pleno horário comercial. A sensação é de que todos os homens que trabalham no centro da cidade freqüentam esses locais.
De acordo com o texto “Mariposas que trabalham”[3], do sociólogo Lúcio Barros, Laure Adler (1991), competente historiadora francesa, busca na obra de Félix Regnaut, de 1906, quatro tipos de clientela:
- os libertinos, que gostam de novidades e cujos desejos exigem excitações que apenas as mulheres experientes podem oferecer;
- os tímidos e os iniciantes, que não têm coragem ainda de cortejar as mulheres;
- os desfavorecidos pela natureza;
- os homens casados com mulheres doentes que não podem recebê-los e principalmente a multidão daqueles que não possuem os meios para contrair matrimônio ou manter uma amante (Adler, 1991: 98 e 99).
Aos quatro segmentos, a autora acrescenta um quinto: "o grande número de homens casados cujas esposas não são doentes, mas com as quais o ato carnal tem como finalidade apenas a procriação, e como modo de execução, a rapidez. Sem esquecer aquelas mulheres que impõem ao cônjuge a abstinência sexual" (Adler, 1991:99).
Pelas visitas das quais participei, observo que existe principalmente uma classe não abordada pela pesquisadora: um grande número de curiosos que se amontoam nas portas dos quartos, ou seja, freqüentadores de hotéis que não fazem programa com as prostitutas, mas apenas observam, perguntam sobre os preços de alguns serviços para algumas mulheres e vão embora.
Esse processo de ir e vir aos hotéis durou um período de dez meses da montagem, sendo que, nos últimos três meses que antecederam à estréia do espetáculo, houve uma diminuição das visitas devido à quantidade de ensaios para finalização do espetáculo.
O trabalho foi realizado em processo colaborativo, ou seja, a dramaturgia foi construída em cena, com as contribuições importantíssimas dos relatos de todas as mulheres com quem tivemos contato e das improvisações de nós atores.
É importante ressaltar que desde o princípio do processo, sempre defrontamos com uma questão: O que queremos dizer do universo da prostituição? Qual o recorte que queremos fazer dentro de um universo tão amplo que aborda sexo, relações entre comércio e mercadorias humanas expostas. Quando finalmente optamos pelo enfoque nas histórias de vida de prostitutas o grande perigo era cair no estereótipo, mulheres que fazem sexo com trinta, quarenta, cinqüenta homens por dia... não, não era disso que queríamos falar, ou melhor, não apenas disso. Cabia a nós desvendar-mos o outro lado, da prostituta não enquanto vítima da sociedade, mas da mulher, filha, mãe e esposa que possuía um passado, um presente e um futuro muitas vezes nem tão promissor, como a maioria das pessoas almeja:
Violeta — Ah, foi um patrão meu que levou. Era crente, lá do Alto Paraná. Ele levou eu pra conhecer a zona. Daí eu fui. Mas eu não fiquei. Daí eu fiquei uns tempos e fui trabalhar. Entendeu? E eu tinha... (falas confusas). Não tinha jeito, pra quem cuidou deles e eu fui trabalhar... eu dormia... (falas confusas). Daí em Curitiba eu vi que não tinha jeito, daí eu peguei e vim pra cá...
Mateus — Mas isso no Paraná...
Violeta — Em Londrina
Mateus — Era pastor você falou que te levou pra zona?
Violeta — é...
Mateus — te levou como?
Luci — Pra conhecer, pra fazer um programa com ele?
Violeta — Ele me levou pra trabalhar mesmo. Eu trabalhava em um restaurante... daí eu fiquei lá, mas eu tinha que beber demais, eu tava inchando, tava inchando aí eu vim pra cá. Não tinha que beber, não era boate, daí eu vim pra cá. Mas eu vim pra cá velha, uns 40 anos, já tô com 60...[4]

O que mais impressionou a todos os envolvidos nessa montagem foram os relatos de como as mulheres iniciaram no universo da prostituição. Muitas vezes as histórias reais beiravam ao realismo fantástico.[5]
Eu vim sozinha, com a minha decisão. No começo eu não sabia que cada coisa tinha um preço. Veio um homem e fez de um tudo comigo. E depois ele ainda foi na menina ao lado e falou “orienta a menina lá, ela fez tudo comigo por cinco reais”[6]
Após ouvirmos todos os relatos, partimos para decupagem das fitas gravadas. Dentro do processo colaborativo, o trabalho, de certa forma, torna-se mais minucioso já que é necessário voltar à cena e rever a dramaturgia inúmeras vezes, principalmente nesse caso, onde o artístico se baseia em uma realidade tão crua.
A dramaturgia caminhava para um processo que não agradava à equipe, mas, mesmo assim, não conseguíamos mudar a direção. Percebeu-se que lidar com o real do sexo, com apenas duas atrizes e um ator tendo que alternarem a cena entre várias prostitutas e inúmeros clientes não era um caminho interessante. É nesse momento que após várias discussões optamos por manter partes importantes do depoimento transpondo a dramaturgia para um tempo não-real: um tempo de interdição, onde hotéis foram fechados e em um desses com o nome fictício de “Hotel Açucenas”, permaneceram seis mulheres que recorrem às suas histórias singulares afim de reconstruírem suas vidas e reabrirem o hotel. Logo no início do espetáculo, o público se depara com o hotel interditado e um homem que adentra esse espaço, em busca de “vestígios” de vida. É essa personagem masculina que situa o espectador no tempo-espaço interditado dos hotéis.
Para preservar a identidade das mulheres que entrevistamos, fizemos a escolha na dramaturgia de que todas as personagens tivessem nomes de flores: Violeta, Dália, Jasmim, Orquídea, Margarida e Begônia constituem o mosaico de comportamentos, anseios e frustrações de cada prostituta com que tivemos contato ao mesmo tempo em que o personagem masculino “Estranho” é o nosso olhar nesses locais: o olhar de um estrangeiro, em busca de segredos, denúncias e histórias de vida.
O projeto aprovado na lei intitulado “Parto” tinha como proposta, além da montagem artística, duas oficinas de teatro destinadas à Associação das Profissionais do Sexo de Belo Horizonte e para as mulheres que são vítimas de maus tratos dos maridos atendidas pelo Centro Benvinda, entidade municipal. Outro desejo era aproximar todas as mulheres que cederam seus relatos e todas as prostitutas de hotéis e praças da cidade do nosso trabalho, sensibilizar para o fato de que o espetáculo estava sendo feito não apenas para deleite de intelectuais e classe artística, mas, principalmente, para elas.
Talvez a grande decepção desse projeto foi o quórum mínimo de profissionais que foram assistir à peça, ainda que tínhamos feito uma campanha forte em todos os hotéis sobre o espetáculo anunciando ao acesso gratuito para as mulheres. Por um lado, isso mostra o descaso e a total desarticulação de uma “classe” que tenta se politizar e, principalmente, regulamentar a profissão. Por outro, nas três semanas de temporada do espetáculo, praticamente todos os setenta lugares destinados ao público foram preenchidos todos os dias, dentre esses, espectadores como jesuítas e funcionárias da Pastoral da mulher que realizam um trabalho oposto à da Associação das Profissionais: as últimas querem melhores condições de trabalho e as primeiras pregam a saída da mulher dos hotéis para uma nova vida.
O que podemos dizer é que o nosso trabalho se situa nesse espaço de “conflito de interesses”: queremos colocar a mulher como sujeito de suas escolhas, ainda que estas escolhas não sejam as ideais. E, principalmente, conscientizar que o mais importante é o caminho da luta por dignidade, para que não precise usar outros nomes, utilizarem disfarces como perucas e criarem outras vidas paralelas.
Por esse viés, o espetáculo propõe esse debate, convida o espectador a entrar sutilmente na vida de cada uma das personagens com nomes de flores, a retirar a “máscara” de cada prostituta e reconhecer o ser humano sensível, inteligente, egoísta, que sofra e que realiza suas escolhas de vida.

REFERÊNCIAS:

BARROS Lúcio. MARIPOSAS QUE TRABALHAM. Disponível em: http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=7356. Acesso em 06 de junho de 2007.

Entrevistas gravadas nos hotéis com as profissionais do sexo entre setembro de 2006 a abril de 2007.
[1] Atriz, professora e produtora cultural. Licenciada em Artes Cênicas pela Universidade Federal de Minas Gerais UFMG. Pós-graduada em Produção e Crítica Cultural pela PUC Minas.
[2] A Associação das Profissionais do Sexo de Belo Horizonte é constituída pelas prostitutas dos hotéis da Guaicurus e daquelas que trabalham em outras regiões como na Praça Rio Branco, no Centro de Belo Horizonte. A Associação, além da distribuição de preservativos e de colaborar em campanhas de prevenção das doenças sexualmente transmissíveis – DST, luta também por melhores condições de trabalho para as prostitutas e por regulamentar a profissão. Atualmente, a Associação se reúne semanalmente no Centro Cultural UFMG e tem como presidente Dos Anjos.
[3] Lúcio Barros foi importante parceiro na pesquisa do universo da prostituição. Sociólogo, entrou em contato com prostitutas através de uma pesquisa com a Polícia Civil. Para maiores informações, consultar o texto “Mariposas que trabalham” disponível em: http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=7356.
[4] Esse trecho trata-se de um relato de uma prostituta com quem encontramos várias vezes durante o processo de montagem. O nome é fictício para preservar sua identidade. Violeta é uma das personagens do espetáculo Hotel Açucenas.
[5] Gênero literário, onde podemos citar como expoente o escritor Gabriel García Márquez.
[6] Relato de Begônia. Conforme já exposto anteriormente, o nome real é preservado. Aqui, mencionamos mais um nome de uma personagem do espetáculo “Hotel Açucenas”.

Enquanto ouvirem ruídos na fala...

Há dias que não passo por aqui. Não por falta do desejo da escrita mas pelas questões tecnológicas que me impediram de continuar.
Fico pensando: será mesmo que as pessoas acessam esse blog e leêm coisas minhas?
De qualquer forma escrevo também para o meu deleite e por ser, nesse momento, minha "válcula de escape".
...

Quero falar sobre algo que me perturba há algum tempo.
Nesse momento a atriz tem sido o meu lado mais sofrido da vida gente! (mais do que a produção, ufa...). Acho que a atriz precisa respirar, correr solitária pelos prados e campinas...
Sem pressões externas e desvios pelo caminho...
Fico pensando que autonomia é essa do ator, de não ser apenas um "robô" obedecendo aos comandos de uma "voz superior" , mas de criar, propor e ser aceita também na minha condição de cena.
Ai, ai... o processo porque passa uma atriz me lembra um pouco um "condenado", ou alguém em um campo de concentração: concentração e vigília, repetição, faça isso, faça aquilo, vá por ali, explore mais,,,
Bem, vou deixar de abstrações e contar uma pequena estorinha:
Era uma vez uma menina-atriz. Ela era talentosa, nem sei se tanto assim, mas se esforçava, e isso é um ponto positivo no teatro. Gostava do que fazia. Ia aos ensaios, pensava em suas personagens como pessoas e atitudes mas não como uma forma de todos acharem a sua "técnica" eficiente. Em casa ela anotava palavras que acreditava serem importantes em seu texto (ainda que não fossem as ideais). A dramaturga então, chegava e dizia que a menina-mulher-atriz escolheu "Aleatoriamente" as palavras do texto e ainda falava que os atores tinham uma atitude "covarde" perante o processo e dava mil lições do ator-santo nosso de cada dia.
Ela, menina, não ligava de fazer e desfazer a linha da criação da cena mas ser acusada de ser burra, preguiçosa e covarde... não, isso não.
Sendo assim, ela não queria o ator-santo. Queria o ator mundano, humano, que sofre, que sente afeto e que não fica só em treinamento físico-psicofísico. Ela não quer ser santa, quer ser mulher, prefere o inferno ao paraíso do ator.

30 de janeiro de 2008

O que escorre...

Enquanto chove,
tem gente que dorme.
Enquanto escorre
sonhos desmoronam nas casas em área de risco
Enquanto chove
Tem gente que grita pedindo clemência à São Pedro
Enquanto pinga forte
Uns ficam felizes pelas plantações e outros desabam sem perspectiva
E além do mais
enquanto chove por aqui tem lugar que seca, seca, seca até pedir o céu nublado de volta.

29 de janeiro de 2008

Maria Lira em tempos de chuva

Domingo à noite. Lagoa do Nado. Chegamos para ver o espetáculo "Maria Lira" com o Coral Trovadores do Vale em Araçuaí. Tapetes feitos com serragem e esteiras aguardam o público. Sentada naquele espaço, contemplo as árvores mais do que verdes e pareço estar em sonho profundo. O espetáculo, que retrata a vida da artista Maria Lira (que compareceu à apresentação juntamente com Frei Chico), ganha pela simplicidade e singeleza.
O sotaque dos artistas do vale e seus rostos "feitos de barro" já são dois pontos que nos chamam a atenção. A atriz-cantante Lenita Luiz que interpreta Maria Lira sabe lidar com as palavras de uma forma tão bela... que às vezes parece que ela realmente viveu todas aquelas histórias. Uma das canções mais lindas que conheço "Tirana da Rosa" , que é uma preciosidade do Vale é interpretada pelos atores que também compartilham de suas histórias com o público. É tão bom ver quando há verdade na cena! Quando os atores ou simplesmente as pessoas acreditam naquilo que fazem, que falam, que olham nos olhos das pessoas que vieram assistir.
A montagem, que dura aproximadamente uma hora, nos pega pela sua história, conhecer a dura realidade desses moradores do Vale ao mesmo tempo em que mostram toda a força da sua arte.
A todos do Coral Trovadores, fica o sentimento de felicidade por ter compartilhado do seu trabalho e da sua poesia em cena. Que eles possam estar conosco mais e mais vezes.

28 de janeiro de 2008

Ciclos que se configuram na alma feminina...

Nossa, é incrível como pra mim é penosa a segunda feira! Isso há muitos anos acontece mas agora está bem pior. Hoje me levantei às 05:45 da manhã para ir dar aula com uma chuva gritando. Na minha cabeça passou rapidamente o trailer do meu filme cotidiano: eu me arrumando em 15 minutos, saindo na rua ainda escura e deserta, chegando no Oiapoque, pegando o 11:55, ficando uma hora lá dentro... ai! melhor não pensar muito, senão nem da cama eu saio.
Sei que é uma bobagem, já que, 2a feira é dia santo como qualquer outro mas não sei... acho que deve ser coisa de reencarnações passadas... quem sabe eu não tenha morrido em uma 2a feira?
Bem... isso tudo é pra falar que estou lendo um livro muito interessante (como a viagem pro meu trabalho é longa, preciso de algo que ocupe o som barulhento do ônibus); o livro se chama "Mulheres que correm com os lobos" e a autora é Clarissa Pinkola Estés, analista junguiana há mais de vinte anos e que recorre a vários arquétipos para mostrar a importância do resgate da mulher selvagem, do "self", do poder de nossa intuição que em tempos pós-modernos, cada vez está dissolvendo...
O conto que li hoje é sobre um homem muito solitário, que vivia da caça e da pesca e que depois de todo um dia sem sucesso na floresta, volta em seu barco e ouve sons de várias mulheres. Ele se aproxima e vê várias mulheres nuas e lindas a conversar e muitas peles de foca. Essas mulheres começam a colocar suas peles e mergulham no oceano... A mais alta delas procura pela sua mas o homem solitário a pega e pede pra que essa mulher se torne sua companheira. Ela aceita por um tempo determinado, tem um filho com ele mas aos poucos começa a envelhecer precocemente. O cabelo cai, começa a perder a visão, a pele enruga e então ela resolve voltar para o mar. O marido se irrita, esconde a pele mas, a criança, vendo a angústia da mãe e uma voz que ouve do mar, encontra a pele e a devolve à mãe. Os dois vão para o oceano. A criança se encontra com a "avó-foca" , a mãe passa a rejuvenecer mas o filho não pode ficar em sua companhia. Depois de sete dias no mar, a mãe o leva novamente à terra mas promete que toda a vez que ele quiser reencontrá-la basta soar alguns dos objetos que ela deixou para trás. O filho se torna um tocador de tambor. Perde a mãe mas passa a revê-la no seu lugar, na sua "casa" onde ela é feliz.
Bem, esses e outros contos servem para trabalhar vários arquétipos. Tentei recontar resumidamente toda essa história porque pra mim fica claro os vários ciclos porque homens e mulheres passam e como é importante as vezes respeitá-los . Quase nunca podemos fazer isso porque a nossa vida, o nosso tabalho, as nossas obrigações não deixam.
Temos fases introspectivas, outras histéricas e muitas ansiedades e depressões que denotam que alguma coisa em nossa vida não está bem, que não estamos indo na direção certa...
Se eu pudesse não levantaria às 05:45 mas tenho que condicionar o meu relógio anti-biológico! Isso pra mim não é natural, mas ,tenho que reagir e me levantar. Nem sempre podemos respeitar os nossos ciclos naturais...
Agora tem coisas que realmente não dizem respeito aos ciclos naturais, como a depressão.
Não sou terapeuta, mas vejo casos nítidos de depressão que mostram alguma coisa que não condiz com o que a pessoa é. Tenho uma amiga bailarina que quer desistir da profissão. Não quer mais viver na instabilidade artística, quer parar de sofrer mas ao mesmo tempo não consegue mudar de rumo, tentar, por exemplo, abrir uma padaria e fica, estagnada no tempo.
Quando alguém não aceita os talentos naturais e os recusa, a pessoa sofre, é o que percebo.
Mas enquanto isso... luto pelas 2as feiras!

P>S: Gente, sei que esse texto está um pouco confuso. Tem um monte de gente conversando do meu lado atrapalhando minha concentração de escritora. Bem, prometo melhorá-lo depois, tenho que respeitar os ciclos né?

24 de janeiro de 2008

São Jorge, o Dragão e a Lua: Início do Santo Guerreiro...

História

De acordo com a lenda, Jorge teria nascido na antiga Capadócia, região que atualmente pertence à Turquia. Jorge ainda criança, mudou-se para a Palestina com sua mãe após seu pai morrer em batalha. Sua mãe, originária da Palestina, possuia muitos bens e o educou, com todo esmero. Ao atingir a adolescência, Jorge entrou para a carreira das armas, por ser a que mais satisfazia à sua natural índole combativa. Logo foi promovido a capitão do exército romano devido a sua dedicação e habilidade - qualidades que levaram o Imperador a lhe conferir o título de conde da Capadócia. Aos 23 anos passou a residir na corte imperial em Roma, exercendo a função de Tribuno Militar.
Neste tempo sua mãe faleceu e ele, tomando grande parte nas riquezas que lhe ficaram, foi-se para a corte do Imperador. Vendo, Jorge, que urdia tanta crueldade contra os cristãos, parecendo-lhe ser aquele tempo conveniente para alcançar a verdadeira salvação, distribuiu com diligência toda a riqueza que tinha aos pobres. O imperador Diocleciano tinha planos de matar todos os cristãos e no dia marcado para o senado confirmar o decreto imperial, Jorge levantou-se no meio da reunião declarando-se espantado com aquela decisão, e afirmou que os os ídolos adorados nos templos pagãos eram falsos deuses.
Todos ficaram atônitos ao ouvirem estas palavras de um membro da suprema corte romana, defendendo com grande ousadia a fé em Jesus Cristo. Indagado por um cônsul sobre a origem dessa ousadia, Jorge prontamente respondeu-lhe que era por causa da Verdade. O tal cônsul, não satisfeito, quis saber: "O que é a Verdade?". Jorge respondeu-lhe: "A Verdade é meu Senhor Jesus Cristo, a quem vós perseguis, e eu sou servo de meu redentor Jesus Cristo, e Nele confiado me pus no meio de vós para dar testemunho da Verdade."
Como São Jorge mantinha-se fiel ao cristianismo, o Imperador tentou fazê-lo desistir da fé torturando-o de vários modos. E, após cada tortura, era levado perante o imperador, que lhe perguntava se renegaria a Jesus para adorar os ídolos. Todavia, Jorge reafirmava sua fé, tendo seu martírio aos poucos ganhado notoriedade e muitos romanos tomado as dores daquele jovem soldado, inclusive a mulher do imperador, que se converteu ao cristianismo. Finalmente, Diocleciano, não tendo êxito, mandou degolá-lo no dia 23 de abril de 303, segundo a tradição católica, em Nicomédia (Ásia Menor).
Os restos mortais de São Jorge foram transportados para Lídia (Antiga Dióspolis), cidade em que crescera com sua mãe. Lá ele foi sepultado, e mais tarde o imperador cristão Constantino, mandou erguer suntuoso oratório aberto aos fiéis para que a devoção ao santo fosse espalhada por todo o Oriente.
Pelo século V, já havia cinco igrejas em Constantinopla dedicadas a São Jorge. Só no Egito, nos primeiros séculos após sua morte, construíram-se quatro igrejas e quarenta conventos dedicados ao mártir. Na Armênia, em Bizâncio, no Estreito de Bósforo na Grécia, São Jorge era inscrito entre os maiores santos da Igreja Católica.

Disseminação da devoção a São Jorge


Na Itália, era padroeiro da cidade de Gênova. Frederico III da Alemanha dedicou a ele uma Ordem Militar. Na França, Gregório de Tours era conhecido por sua devoção ao santo cavaleiro; o Rei Clóvis dedicou-lhe um mosteiro, e sua esposa, Santa Clotilde, mandou erguer várias igrejas e conventos em sua honra. A Inglaterra foi o país ocidental onde a devoção ao santo teve papel mais relevante.
O monarca Eduardo III colocou sob a proteção de São Jorge a Ordem da Jarreteira, fundada por ele em 1330. Por considerá-lo o protótipo dos cavaleiros medievais, o rei inglês Ricardo I, comandante de uma das primeiras Cruzadas, constituiu São Jorge padroeiro daquelas expedições que tentavam conquistar a Terra Santa dos muçulmanos. No século XIII, a Inglaterra já celebrava o dia dedicado ao santo e, em 1348, criou a Ordem dos Cavaleiros de São Jorge. Os ingleses acabaram por adotar São Jorge como padroeiro do país, imitando os gregos que também trazem a cruz de São Jorge na sua bandeira.
Ainda durante a Grande Guerra, muitas medalhas de São Jorge foram cunhadas e oferecidas aos enfermeiros militares e às irmãs de caridade que se sacrificaram ao tomar conta dos feridos de guerra. As artes, também, divulgaram amplamente a imagem do santo.
Em Paris, no Museu do Louvre, há um quadro famoso de Rafael, intitulado "São Jorge vencedor do Dragão". Na Itália, existem diversos quadros célebres, como um de autoria de Donatello.


São Jorge, o Dragão e a Lua


O dragão (o demônio) simbolizaria a idolatria destruída com as armas da Fé. Já a donzela que o santo defendeu, representaria a província da qual ele extirpou as heresias.
A relação entre o santo e a lua viria de uma lenda antiga que acabou virando crença para muitos. Diz a tradição que as manchas apresentadas pela lua representam o milagroso santo e sua espada pronto para defender aqueles que buscam sua ajuda.

ORAÇÃO À SÃO JORGE

Chagas abertas, sagrado coração, todo amor e bondade e sangue do meu senhor Jesus Cristo no corpo meu se derrame hoje e sempre. Eu andarei vestido e armado com as armas de São Jorge. Para que meus inimigos tendo pés não me alcancem, tendo mãos não me peguem, tendo olhos não me enxerguem e nem pensamentos eles possam ter para me fazerem mal. Armas de fogo o meu corpo não alcançarão, facas e lanças se quebrarão sem ao meu corpo chegar, cordas e correntes se arrebentarão sem o meu corpo amarrarem. Jesus Cristo me proteja e me defenda com o poder de sua santa e divina graça, a Virgem Maria de Nazaré me cubra com o seu sagrado manto me protegendo em todas as minhas dores e aflições e Deus com sua Divina misericódia e grande poder seja meu defensor contra as maldades e perseguições dos meus inimigos. E o Glorioso São Jorge, em nome de Deus, em nome de Maria de Nazaré, em nome da falange do Divino Espírito Santo estenda-me o seu escudo e as suas poderosas armas e que debaixo das patas do seu fiel ginete meus inimigos fiquem humildes e submissos a vós, sem se atreverem a ter um olhar sequer que me possa prejudicar. Assim seja com o poder de Deus e de Jesus e da falange do Divino Espírito Santo. Amém.

CABARÉ MINEIRO

A dançarina espanhola de Montes Claros dança e redança na sala mestiça
Cem olhos morenos estão despindo seu corpo gordo picado de mosquito.
Tem um sinal de bala na coxa direita,o riso postiço de um dente de ouro,mas é linda, linda gorda e satisfeita.
Como rebola as nádegas amarelas!
Cem olhos brasileiros estão seguindo o balanço doce e mole de suas têtas....
(DRUMMOND, Carlos. Alguma Poesia.)

Processos para a Prontidão Cênica

Gente, não sei porque, mas agora me deu vontade de falar sobre o treinamento.
Aos atores me desculpem a grosseria em algumas palavras, mas a meiguice não é o meu forte.
Beijos carinhosos a todos os batalhadores da cena!


Então...
Uma coisa que nós atores nos deparamos a todo momento em sala de ensaio é sobre o treinamento em si. Qual o melhor método, a melhor forma de disponibilizar meu corpo para o trabalho da cena? E, principalmente, de que forma podemos nos precaver de hematomas e otras cositas não muito interessantes que sempre ocorrem com grande parte dos atores?
Temos muitos mestres espalhados pelo mundo: o grande Stanislávski, Grotówski, Brecht, Artaud... todos com o seu legado incontestável para o universo do teatro. Pessoas que realmente dedicaram suas vidas à arte e propuseram o teatro como uma área do conhecimento como as demais.
Porém, eu não suporto quando chega alguém querendo trabalhar dentro dessas metodologias (criadas tão longe de nós brasileiros...) como se fossem as grandes verdades da vida!
Para mim, o treinamento físico existe para potencializar as minhas energias e, principalmente, me resguardar respeitando a fisiologia da minha voz, o meu corpo... já que cada corpo encontra uma melhor forma de se aquecer.
Vejo muitos atores por aí, adorantes do teatro físico, amantes de Grotowski com sérios problemas vocais, tendinites a mil e aí me pergunto: no que o treinamento "ao pé da letra" auxiliou esse ser humano?
Bem, treinamento é uma ferramenta muito importante do ator, acredito piamente nisso e sou uma defensora desde que respeite a nossa fisiologia. Assim como a técnica nos auxilia , mas, ela solitária, apenas a "casca" não ajuda em nada ao ator mostrar seu grande trunfo: a verdade do que está fazendo de "mentirinha" na cena....

23 de janeiro de 2008

Idéias que pegam na maçaneta do pensamento...

Gente... cada dia eu acho mais absurdo a condição de nós artistas. .. fico pensando na seguinte cena: eu, toda empiricata, bonitinha lá no Belas Artes e eu, atriz suja, imunda no estacionamento da escola de engenharia e eu, dona de casa, preocupada com as contas vencidas e muito pior, eu...produtora , tirando leite de pedra para viabilizar a temporada do espetáculo Hotel Açucenas.
É difícil mesmo gente, conciliar tantos eus em uma mesma pessoinha...
Acho que todo artista se pega, ao menos uma vez por dia, com o desejo de abandonar certas idéias... viver na corda bamba é realmente uma arte!
Todo brasileiro sabe disso, mas o artista brasileiro...
melhor como ninguém.

22 de janeiro de 2008

FRAGMENTOS DE UM ARTIGO:


Quando criança minha avó vendia roupas usadas e eu a acompanhava em um local na cidade de Uberaba, Minas Gerais chamado Gogó da Ema. Aos poucos, pude entender tratar-se de um prostíbulo onde escandalosas mulheres amontoavam-se junto às roupas. Acredito que esse foi o meu ponto de partida no universo da prostituição. Ë por isso que, de certo modo, creio que nossas escolhas artísticas se baseiam sempre em fatos que nos marcaram profundamente, principalmente na infância, e que transpomos para o universo da arte.
Muito tempo depois, estava na graduação do curso de Artes Cênicas da Escola de Belas Artes da UFMG quando adentrei-me no sexto período na prática de montagem do curso de bacharelado ministrada pelo professor Luiz Carlos Garrocho. O foco da pesquisa eram os seres marginais da região do baixo centro de Belo Horizonte, dentre estes, as prostitutas. No trabalho de campo, por várias vezes visitei hotéis de prostituição da rua Guaicurus no centro da cidade onde pude gravar vários relatos. O resultado desse processo criativo culminou com a apresentação do trabalho “Fudidos Intervenção Cênica no espaço urbano” em agosto de 2004 no quarteirão fechado da rua Guaicurus. A direção foi do professor Luiz Carlos Garrocho.
Esse trabalho fomentou o desejo de uma pesquisa mais aprofundada sobre a prostituta. Alguns parceiros que têm uma pesquisa dentro desse universo como Lúcio Barros, sociólogo, Francilins, fotógrafo e antropólogo além de Dos Anjos, presidente da Associação das Profissionais do Sexo de Belo Horizonte, permaneceram após a finalização do processo “Fudidos”. Isso tudo impulsionou a elaboração de um projeto para leis de incentivo onde o foco era histórias de vida das prostitutas ou profissionais do sexo, como gostam de serem chamadas; e que resultaria em uma montagem cênica. Em 2005, o projeto foi aprovado na Lei Municipal de Incentivo à cultura de Belo Horizonte.
Trazer esse tema à tona foi sempre um desafio. A sociedade de Belo Horizonte, por mais que saiba de todos os hotéis existentes na rua Guaicurus, prefere ignorar o uso dessas casas antigas. É fato também que a Guaicurus é para a grande maioria das pessoas uma região perigosa, conhecida também pelo tráfico de drogas e por ser onde muitos delinqüentes praticam roubos e assaltos.
Antes de partir para o processo de criação, passei novamente pelo trabalho in loco. Visitas em hotéis, casas de strip-tease e cines pornôs foram realizadas por toda a equipe de montagem: direção, dramaturgia, elenco, cenógrafo e iluminador. Todo esse trabalho tinha o intuito de levar material para a sala de ensaio. Dessa pesquisa, para além das fitas gravadas, ficou em cada um de nós as impressões de cheiros, cores, corpos como mercadorias à venda. Um fato que chamou a atenção de todos foi a quantidade considerável de homens pelos corredores, em pleno horário comercial. A sensação é de que todos os homens que trabalham no centro da cidade freqüentam esses locais.
Esse processo de ir e vir aos hotéis durou um período de dez meses da montagem, sendo que, nos últimos três meses que antecederam à estréia do espetáculo, houve uma diminuição das visitas devido à quantidade de ensaios para finalização do espetáculo.
O trabalho foi realizado em processo colaborativo, ou seja, a dramaturgia foi construída em cena, com as contribuições importantíssimas dos relatos de todas as mulheres com quem tivemos contato e das improvisações de nós atores.
É importante ressaltar que desde o princípio do processo, sempre defrontamos com uma questão: O que queremos dizer do universo da prostituição? Qual o recorte que queremos fazer dentro de um universo tão amplo que aborda sexo, relações entre comércio e mercadorias humanas expostas. Quando finalmente optamos pelo enfoque nas histórias de vida de prostitutas o grande perigo era cair no estereótipo, mulheres que fazem sexo com trinta, quarenta, cinqüenta homens por dia... não, não era disso que queríamos falar, ou melhor, não apenas disso. Cabia a nós desvendar-mos o outro lado, da prostituta não enquanto vítima da sociedade, mas da mulher, filha, mãe e esposa que possuía um passado, um presente e um futuro muitas vezes nem tão promissor, como a maioria das pessoas almeja.

Impressões de uma menina de São Jorge

Há um tempo atrás achava que ter um blog era coisa de gente que não tinha nada para fazer, bem, ou pessoas que tinham um grande desejo de se expressar através das teclas.
Comecei esse ano com uma necessidade de me expressar através da escrita. Não que irei virar uma dramaturga pois sou enérgica demais para o tempo da palavra. Sou da ação. Mas o lado introspectivo me invade às vezes. Bem, acho que todo mundo merece um canto pra sossegar o pensamento né? Espero que seja esse... um espaço também pra falar dos anseios de artista, do nosso processo criativo, de amor e amizade e porque não... do horóscopo do dia.