27 de fevereiro de 2008

Buscando forças

Me ajuda São Jorge Guerreiro!
Procuro força viva em minhas personagens... ou será que eu sou delas?
O estado latente de revolta perante aqueles que não compartilham da batalha me deixa sem força.
É muito mais fácil ser só atriz...
muito mais do que ser uma atriz e Guerreira!
Estar na guerra é mais latente do que estar em cena.
E na luta enfraqueço,
enfraqueço e desapareço na cena.
Apenas momentaneamente
o tempo pra recuperar o fôlego
e dizer sim à todo esse sonho de concretude árida.

26 de fevereiro de 2008

3a Feira

Por hoje, paciência e perseverança na luta diária.
A batalha prossegue até ó último aplauso!

25 de fevereiro de 2008

Hotel Açucenas- O Foco do meu momento


No segundo compasso

Nossa gente... a vida cotidiana pós-moderna não nos permite nem pegarmos uma gripezinha e ficar de cama. A danada lascou-me um beijo na 6a feira e tive que trabalhar acompanhada dessa criatura desagradável. Luci, minha amiga na vida e na cena teve um pequeno acidente de moto, tá com joelhinho enfaixado e trabalhando.
A vida não permite tropeços, catarros, vontade de ficar na cama!
Ela diz "vai menina, você tem que resolver essa lista de 567 pendências do dia". E ainda estar com cara de feliz.
Ai se não fosse meu resfenol de cada dia!

22 de fevereiro de 2008

Sexta Feira Santa...

Por enquanto me desaquieto por dentro...
entro na contagem do calendário cristão
e espero, impaciente pelos dias chegarem..
que todos celebrem o momento da festa do teatro de cada dia!


Hotel Açucenas!
Vem aí!Temporada Hotel Açucenas.08/03 à 06/04- sábados e domingos 19hCentro Cultural UFMG- Av.Santos Dumont 174 CentroIngressos: R$14,00 e R$7,00Informações: 91175770

21 de fevereiro de 2008

Enquanto isso, a burocracia dá sinal vermelho!

Bem, se ninguém comenta, é porque talvez ninguém leia minhas reflexões...
Tudo bem, pode ser um espaço interessante de registro virtual.
Quero dizer que as coisas agora se tornam um pouco menos confusas no processo de re-montagem do Açucenas.
A grande questão minha gente é realizar espetáculos em espaços alternativos onde o poder público manda.
A Burocracia para se utilizar poucos metros de um estacionamento não movimentado é tanta que se cada um dessa equipe não quisesse MUITO estar nesse trabalho, eu, sinceramente não sei se prosseguiria.
As instituições públicas, enquanto não abrirem realmente o "canal de comunicação" com o grupos artísticos, será uma instituição arcaica, destinada a fazer sempre a mesma coisa sem que isso contribua realmente para a sociedade....

20 de fevereiro de 2008

Enquanto isso... escorre no outro Continente.

Hoje vi uma foto já vista mundialmente, de uma criança africana agonizando. Ela se arrasta e tenta inutilmente chegar à um campo de refugiados, a um quilômetro dali.
Ao seu lado, um abutre aguarda a morte da criança para que possa comê-la.
O fotógrafo apenas captou a imagem e deixou o sofrimento pra trás.
Depois de ganhar prêmios e vangloriações pela foto, ele se suicidou, em uma crise aguda de depressão.
Meu Deus... quantas vezes não temos a mesma atitude em nosso cotidiano?
Quantas vezes não filmamos, fotogramos a cena na grande cidade e não olhamos pra trás?
Cada vez mais o nosso olhar torna-se um olhar de indiferença.
Isso não quer dizer que devamos pegar o primeiro vôo rumo à Àfrica mas começarmos a intervir em nosso mundo, não apenas sensibilizar e derramar nossas lágrimas mas que realmente atitudes transformadoras possam fazer parte do nosso cotidiano...
Salve Jorge!E dizime toda essa guerra de fome e sofrimento ao redor!

19 de fevereiro de 2008

3a feira

Por hoje ...
me calo e retrocedo.

18 de fevereiro de 2008

Hotel Açucenas!

Vem aí!

Temporada Hotel Açucenas.
08/03 à 06/04- sábados e domingos 19h
Centro Cultural UFMG- Av.Santos Dumont 174 Centro
Ingressos: R$14,00 e R$7,00
Informações: 91175770

Lema de Hoje

Acordar e enfrentar o sol e os sons!
Acordar e batalhar,
Batalhar e acreditar nesse dia como único, necessário e especial!

14 de fevereiro de 2008

Ao Artista do Dia

Acho que no fundo,
o que o bom artista quer ver
não é seu ego se inflando para o público que aqui vem
mas que algo de belo fique após sua passagem na vida
e que possa ser usufruído por todos
que cada bela obra fique de certa forma impregnada na pele das gentes
a memória é um dom precioso
de todo ser humano
e a arte ali quer ficar...

P>S: Perdão caros leitores, eu, uma guerreira pe´no chão às vezes me torno abstrata, aérea.

13 de fevereiro de 2008

Sobre o sol de 4a feira

Resolvi acabar com as neuroses,
Receber o sol e o céu lindo lá de fora,
Ouvir algumas coisas absurdas e depois jogá-las na lata de lixo do pensamento não processado,
Respirar até o último fio de cabelo no desespero
Fazer cara de otária quando assim a conveniência pedir que proceda
Utilizar da licença poética sempre...

11 de fevereiro de 2008

Entre a vida e a cena: relato de um trabalho de campo sobre a prostituição.

Entre a vida e a cena: Relato de um trabalho de campo sobre a prostituição
Michelle Cristina Alves Silva[1]


Quando criança minha avó vendia roupas usadas e eu a acompanhava em um local na cidade de Uberaba, Minas Gerais chamado Gogó da Ema. Aos poucos, pude entender tratar-se de um prostíbulo onde escandalosas mulheres amontoavam-se junto às roupas. Acredito que esse foi o meu ponto de partida no universo da prostituição. Ë por isso que, de certo modo, creio que nossas escolhas artísticas se baseiam sempre em fatos que nos marcaram profundamente, principalmente na infância, e que transpomos para o universo da arte.
Muito tempo depois, estava na graduação do curso de Artes Cênicas da Escola de Belas Artes da UFMG quando adentrei-me no sexto período na prática de montagem do curso de bacharelado ministrada pelo professor Luiz Carlos Garrocho. O foco da pesquisa eram os seres marginais da região do baixo centro de Belo Horizonte, dentre estes, as prostitutas. No trabalho de campo, por várias vezes visitei hotéis de prostituição da rua Guaicurus no centro da cidade onde pude gravar vários relatos. O resultado desse processo criativo culminou com a apresentação do trabalho “Fudidos Intervenção Cênica no espaço urbano” em agosto de 2004 no quarteirão fechado da rua Guaicurus. A direção foi do professor Luiz Carlos Garrocho.
Esse trabalho fomentou o desejo de uma pesquisa mais aprofundada sobre a prostituta. Alguns parceiros que têm uma pesquisa dentro desse universo como Lúcio Barros, sociólogo, Francilins, fotógrafo e antropólogo além de Dos Anjos, presidente da Associação das Profissionais do Sexo de Belo Horizonte[2], permaneceram após a finalização do processo “Fudidos”. Isso tudo impulsionou a elaboração de um projeto para leis de incentivo onde o foco era histórias de vida das prostitutas ou profissionais do sexo, como gostam de serem chamadas; e que resultaria em uma montagem cênica. Em 2005, o projeto foi aprovado na Lei Municipal de Incentivo à cultura de Belo Horizonte.
Trazer esse tema à tona foi sempre um desafio. A sociedade de Belo Horizonte, por mais que saiba de todos os hotéis existentes na rua Guaicurus, prefere ignorar o uso dessas casas antigas. É fato também que a Guaicurus é para a grande maioria das pessoas uma região perigosa, conhecida também pelo tráfico de drogas e por ser onde muitos delinqüentes praticam roubos e assaltos.
Antes de partir para o processo de criação, passei novamente pelo trabalho in loco. Visitas em hotéis, casas de strip-tease e cines pornôs foram realizadas por toda a equipe de montagem: direção, dramaturgia, elenco, cenógrafo e iluminador. Todo esse trabalho tinha o intuito de levar material para a sala de ensaio. Dessa pesquisa, para além das fitas gravadas, ficou em cada um de nós as impressões de cheiros, cores, corpos como mercadorias à venda. Um fato que chamou a atenção de todos foi a quantidade considerável de homens pelos corredores, em pleno horário comercial. A sensação é de que todos os homens que trabalham no centro da cidade freqüentam esses locais.
De acordo com o texto “Mariposas que trabalham”[3], do sociólogo Lúcio Barros, Laure Adler (1991), competente historiadora francesa, busca na obra de Félix Regnaut, de 1906, quatro tipos de clientela:
- os libertinos, que gostam de novidades e cujos desejos exigem excitações que apenas as mulheres experientes podem oferecer;
- os tímidos e os iniciantes, que não têm coragem ainda de cortejar as mulheres;
- os desfavorecidos pela natureza;
- os homens casados com mulheres doentes que não podem recebê-los e principalmente a multidão daqueles que não possuem os meios para contrair matrimônio ou manter uma amante (Adler, 1991: 98 e 99).
Aos quatro segmentos, a autora acrescenta um quinto: "o grande número de homens casados cujas esposas não são doentes, mas com as quais o ato carnal tem como finalidade apenas a procriação, e como modo de execução, a rapidez. Sem esquecer aquelas mulheres que impõem ao cônjuge a abstinência sexual" (Adler, 1991:99).
Pelas visitas das quais participei, observo que existe principalmente uma classe não abordada pela pesquisadora: um grande número de curiosos que se amontoam nas portas dos quartos, ou seja, freqüentadores de hotéis que não fazem programa com as prostitutas, mas apenas observam, perguntam sobre os preços de alguns serviços para algumas mulheres e vão embora.
Esse processo de ir e vir aos hotéis durou um período de dez meses da montagem, sendo que, nos últimos três meses que antecederam à estréia do espetáculo, houve uma diminuição das visitas devido à quantidade de ensaios para finalização do espetáculo.
O trabalho foi realizado em processo colaborativo, ou seja, a dramaturgia foi construída em cena, com as contribuições importantíssimas dos relatos de todas as mulheres com quem tivemos contato e das improvisações de nós atores.
É importante ressaltar que desde o princípio do processo, sempre defrontamos com uma questão: O que queremos dizer do universo da prostituição? Qual o recorte que queremos fazer dentro de um universo tão amplo que aborda sexo, relações entre comércio e mercadorias humanas expostas. Quando finalmente optamos pelo enfoque nas histórias de vida de prostitutas o grande perigo era cair no estereótipo, mulheres que fazem sexo com trinta, quarenta, cinqüenta homens por dia... não, não era disso que queríamos falar, ou melhor, não apenas disso. Cabia a nós desvendar-mos o outro lado, da prostituta não enquanto vítima da sociedade, mas da mulher, filha, mãe e esposa que possuía um passado, um presente e um futuro muitas vezes nem tão promissor, como a maioria das pessoas almeja:
Violeta — Ah, foi um patrão meu que levou. Era crente, lá do Alto Paraná. Ele levou eu pra conhecer a zona. Daí eu fui. Mas eu não fiquei. Daí eu fiquei uns tempos e fui trabalhar. Entendeu? E eu tinha... (falas confusas). Não tinha jeito, pra quem cuidou deles e eu fui trabalhar... eu dormia... (falas confusas). Daí em Curitiba eu vi que não tinha jeito, daí eu peguei e vim pra cá...
Mateus — Mas isso no Paraná...
Violeta — Em Londrina
Mateus — Era pastor você falou que te levou pra zona?
Violeta — é...
Mateus — te levou como?
Luci — Pra conhecer, pra fazer um programa com ele?
Violeta — Ele me levou pra trabalhar mesmo. Eu trabalhava em um restaurante... daí eu fiquei lá, mas eu tinha que beber demais, eu tava inchando, tava inchando aí eu vim pra cá. Não tinha que beber, não era boate, daí eu vim pra cá. Mas eu vim pra cá velha, uns 40 anos, já tô com 60...[4]

O que mais impressionou a todos os envolvidos nessa montagem foram os relatos de como as mulheres iniciaram no universo da prostituição. Muitas vezes as histórias reais beiravam ao realismo fantástico.[5]
Eu vim sozinha, com a minha decisão. No começo eu não sabia que cada coisa tinha um preço. Veio um homem e fez de um tudo comigo. E depois ele ainda foi na menina ao lado e falou “orienta a menina lá, ela fez tudo comigo por cinco reais”[6]
Após ouvirmos todos os relatos, partimos para decupagem das fitas gravadas. Dentro do processo colaborativo, o trabalho, de certa forma, torna-se mais minucioso já que é necessário voltar à cena e rever a dramaturgia inúmeras vezes, principalmente nesse caso, onde o artístico se baseia em uma realidade tão crua.
A dramaturgia caminhava para um processo que não agradava à equipe, mas, mesmo assim, não conseguíamos mudar a direção. Percebeu-se que lidar com o real do sexo, com apenas duas atrizes e um ator tendo que alternarem a cena entre várias prostitutas e inúmeros clientes não era um caminho interessante. É nesse momento que após várias discussões optamos por manter partes importantes do depoimento transpondo a dramaturgia para um tempo não-real: um tempo de interdição, onde hotéis foram fechados e em um desses com o nome fictício de “Hotel Açucenas”, permaneceram seis mulheres que recorrem às suas histórias singulares afim de reconstruírem suas vidas e reabrirem o hotel. Logo no início do espetáculo, o público se depara com o hotel interditado e um homem que adentra esse espaço, em busca de “vestígios” de vida. É essa personagem masculina que situa o espectador no tempo-espaço interditado dos hotéis.
Para preservar a identidade das mulheres que entrevistamos, fizemos a escolha na dramaturgia de que todas as personagens tivessem nomes de flores: Violeta, Dália, Jasmim, Orquídea, Margarida e Begônia constituem o mosaico de comportamentos, anseios e frustrações de cada prostituta com que tivemos contato ao mesmo tempo em que o personagem masculino “Estranho” é o nosso olhar nesses locais: o olhar de um estrangeiro, em busca de segredos, denúncias e histórias de vida.
O projeto aprovado na lei intitulado “Parto” tinha como proposta, além da montagem artística, duas oficinas de teatro destinadas à Associação das Profissionais do Sexo de Belo Horizonte e para as mulheres que são vítimas de maus tratos dos maridos atendidas pelo Centro Benvinda, entidade municipal. Outro desejo era aproximar todas as mulheres que cederam seus relatos e todas as prostitutas de hotéis e praças da cidade do nosso trabalho, sensibilizar para o fato de que o espetáculo estava sendo feito não apenas para deleite de intelectuais e classe artística, mas, principalmente, para elas.
Talvez a grande decepção desse projeto foi o quórum mínimo de profissionais que foram assistir à peça, ainda que tínhamos feito uma campanha forte em todos os hotéis sobre o espetáculo anunciando ao acesso gratuito para as mulheres. Por um lado, isso mostra o descaso e a total desarticulação de uma “classe” que tenta se politizar e, principalmente, regulamentar a profissão. Por outro, nas três semanas de temporada do espetáculo, praticamente todos os setenta lugares destinados ao público foram preenchidos todos os dias, dentre esses, espectadores como jesuítas e funcionárias da Pastoral da mulher que realizam um trabalho oposto à da Associação das Profissionais: as últimas querem melhores condições de trabalho e as primeiras pregam a saída da mulher dos hotéis para uma nova vida.
O que podemos dizer é que o nosso trabalho se situa nesse espaço de “conflito de interesses”: queremos colocar a mulher como sujeito de suas escolhas, ainda que estas escolhas não sejam as ideais. E, principalmente, conscientizar que o mais importante é o caminho da luta por dignidade, para que não precise usar outros nomes, utilizarem disfarces como perucas e criarem outras vidas paralelas.
Por esse viés, o espetáculo propõe esse debate, convida o espectador a entrar sutilmente na vida de cada uma das personagens com nomes de flores, a retirar a “máscara” de cada prostituta e reconhecer o ser humano sensível, inteligente, egoísta, que sofra e que realiza suas escolhas de vida.

REFERÊNCIAS:

BARROS Lúcio. MARIPOSAS QUE TRABALHAM. Disponível em: http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=7356. Acesso em 06 de junho de 2007.

Entrevistas gravadas nos hotéis com as profissionais do sexo entre setembro de 2006 a abril de 2007.
[1] Atriz, professora e produtora cultural. Licenciada em Artes Cênicas pela Universidade Federal de Minas Gerais UFMG. Pós-graduada em Produção e Crítica Cultural pela PUC Minas.
[2] A Associação das Profissionais do Sexo de Belo Horizonte é constituída pelas prostitutas dos hotéis da Guaicurus e daquelas que trabalham em outras regiões como na Praça Rio Branco, no Centro de Belo Horizonte. A Associação, além da distribuição de preservativos e de colaborar em campanhas de prevenção das doenças sexualmente transmissíveis – DST, luta também por melhores condições de trabalho para as prostitutas e por regulamentar a profissão. Atualmente, a Associação se reúne semanalmente no Centro Cultural UFMG e tem como presidente Dos Anjos.
[3] Lúcio Barros foi importante parceiro na pesquisa do universo da prostituição. Sociólogo, entrou em contato com prostitutas através de uma pesquisa com a Polícia Civil. Para maiores informações, consultar o texto “Mariposas que trabalham” disponível em: http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=7356.
[4] Esse trecho trata-se de um relato de uma prostituta com quem encontramos várias vezes durante o processo de montagem. O nome é fictício para preservar sua identidade. Violeta é uma das personagens do espetáculo Hotel Açucenas.
[5] Gênero literário, onde podemos citar como expoente o escritor Gabriel García Márquez.
[6] Relato de Begônia. Conforme já exposto anteriormente, o nome real é preservado. Aqui, mencionamos mais um nome de uma personagem do espetáculo “Hotel Açucenas”.

Enquanto ouvirem ruídos na fala...

Há dias que não passo por aqui. Não por falta do desejo da escrita mas pelas questões tecnológicas que me impediram de continuar.
Fico pensando: será mesmo que as pessoas acessam esse blog e leêm coisas minhas?
De qualquer forma escrevo também para o meu deleite e por ser, nesse momento, minha "válcula de escape".
...

Quero falar sobre algo que me perturba há algum tempo.
Nesse momento a atriz tem sido o meu lado mais sofrido da vida gente! (mais do que a produção, ufa...). Acho que a atriz precisa respirar, correr solitária pelos prados e campinas...
Sem pressões externas e desvios pelo caminho...
Fico pensando que autonomia é essa do ator, de não ser apenas um "robô" obedecendo aos comandos de uma "voz superior" , mas de criar, propor e ser aceita também na minha condição de cena.
Ai, ai... o processo porque passa uma atriz me lembra um pouco um "condenado", ou alguém em um campo de concentração: concentração e vigília, repetição, faça isso, faça aquilo, vá por ali, explore mais,,,
Bem, vou deixar de abstrações e contar uma pequena estorinha:
Era uma vez uma menina-atriz. Ela era talentosa, nem sei se tanto assim, mas se esforçava, e isso é um ponto positivo no teatro. Gostava do que fazia. Ia aos ensaios, pensava em suas personagens como pessoas e atitudes mas não como uma forma de todos acharem a sua "técnica" eficiente. Em casa ela anotava palavras que acreditava serem importantes em seu texto (ainda que não fossem as ideais). A dramaturga então, chegava e dizia que a menina-mulher-atriz escolheu "Aleatoriamente" as palavras do texto e ainda falava que os atores tinham uma atitude "covarde" perante o processo e dava mil lições do ator-santo nosso de cada dia.
Ela, menina, não ligava de fazer e desfazer a linha da criação da cena mas ser acusada de ser burra, preguiçosa e covarde... não, isso não.
Sendo assim, ela não queria o ator-santo. Queria o ator mundano, humano, que sofre, que sente afeto e que não fica só em treinamento físico-psicofísico. Ela não quer ser santa, quer ser mulher, prefere o inferno ao paraíso do ator.