30 de janeiro de 2008

O que escorre...

Enquanto chove,
tem gente que dorme.
Enquanto escorre
sonhos desmoronam nas casas em área de risco
Enquanto chove
Tem gente que grita pedindo clemência à São Pedro
Enquanto pinga forte
Uns ficam felizes pelas plantações e outros desabam sem perspectiva
E além do mais
enquanto chove por aqui tem lugar que seca, seca, seca até pedir o céu nublado de volta.

29 de janeiro de 2008

Maria Lira em tempos de chuva

Domingo à noite. Lagoa do Nado. Chegamos para ver o espetáculo "Maria Lira" com o Coral Trovadores do Vale em Araçuaí. Tapetes feitos com serragem e esteiras aguardam o público. Sentada naquele espaço, contemplo as árvores mais do que verdes e pareço estar em sonho profundo. O espetáculo, que retrata a vida da artista Maria Lira (que compareceu à apresentação juntamente com Frei Chico), ganha pela simplicidade e singeleza.
O sotaque dos artistas do vale e seus rostos "feitos de barro" já são dois pontos que nos chamam a atenção. A atriz-cantante Lenita Luiz que interpreta Maria Lira sabe lidar com as palavras de uma forma tão bela... que às vezes parece que ela realmente viveu todas aquelas histórias. Uma das canções mais lindas que conheço "Tirana da Rosa" , que é uma preciosidade do Vale é interpretada pelos atores que também compartilham de suas histórias com o público. É tão bom ver quando há verdade na cena! Quando os atores ou simplesmente as pessoas acreditam naquilo que fazem, que falam, que olham nos olhos das pessoas que vieram assistir.
A montagem, que dura aproximadamente uma hora, nos pega pela sua história, conhecer a dura realidade desses moradores do Vale ao mesmo tempo em que mostram toda a força da sua arte.
A todos do Coral Trovadores, fica o sentimento de felicidade por ter compartilhado do seu trabalho e da sua poesia em cena. Que eles possam estar conosco mais e mais vezes.

28 de janeiro de 2008

Ciclos que se configuram na alma feminina...

Nossa, é incrível como pra mim é penosa a segunda feira! Isso há muitos anos acontece mas agora está bem pior. Hoje me levantei às 05:45 da manhã para ir dar aula com uma chuva gritando. Na minha cabeça passou rapidamente o trailer do meu filme cotidiano: eu me arrumando em 15 minutos, saindo na rua ainda escura e deserta, chegando no Oiapoque, pegando o 11:55, ficando uma hora lá dentro... ai! melhor não pensar muito, senão nem da cama eu saio.
Sei que é uma bobagem, já que, 2a feira é dia santo como qualquer outro mas não sei... acho que deve ser coisa de reencarnações passadas... quem sabe eu não tenha morrido em uma 2a feira?
Bem... isso tudo é pra falar que estou lendo um livro muito interessante (como a viagem pro meu trabalho é longa, preciso de algo que ocupe o som barulhento do ônibus); o livro se chama "Mulheres que correm com os lobos" e a autora é Clarissa Pinkola Estés, analista junguiana há mais de vinte anos e que recorre a vários arquétipos para mostrar a importância do resgate da mulher selvagem, do "self", do poder de nossa intuição que em tempos pós-modernos, cada vez está dissolvendo...
O conto que li hoje é sobre um homem muito solitário, que vivia da caça e da pesca e que depois de todo um dia sem sucesso na floresta, volta em seu barco e ouve sons de várias mulheres. Ele se aproxima e vê várias mulheres nuas e lindas a conversar e muitas peles de foca. Essas mulheres começam a colocar suas peles e mergulham no oceano... A mais alta delas procura pela sua mas o homem solitário a pega e pede pra que essa mulher se torne sua companheira. Ela aceita por um tempo determinado, tem um filho com ele mas aos poucos começa a envelhecer precocemente. O cabelo cai, começa a perder a visão, a pele enruga e então ela resolve voltar para o mar. O marido se irrita, esconde a pele mas, a criança, vendo a angústia da mãe e uma voz que ouve do mar, encontra a pele e a devolve à mãe. Os dois vão para o oceano. A criança se encontra com a "avó-foca" , a mãe passa a rejuvenecer mas o filho não pode ficar em sua companhia. Depois de sete dias no mar, a mãe o leva novamente à terra mas promete que toda a vez que ele quiser reencontrá-la basta soar alguns dos objetos que ela deixou para trás. O filho se torna um tocador de tambor. Perde a mãe mas passa a revê-la no seu lugar, na sua "casa" onde ela é feliz.
Bem, esses e outros contos servem para trabalhar vários arquétipos. Tentei recontar resumidamente toda essa história porque pra mim fica claro os vários ciclos porque homens e mulheres passam e como é importante as vezes respeitá-los . Quase nunca podemos fazer isso porque a nossa vida, o nosso tabalho, as nossas obrigações não deixam.
Temos fases introspectivas, outras histéricas e muitas ansiedades e depressões que denotam que alguma coisa em nossa vida não está bem, que não estamos indo na direção certa...
Se eu pudesse não levantaria às 05:45 mas tenho que condicionar o meu relógio anti-biológico! Isso pra mim não é natural, mas ,tenho que reagir e me levantar. Nem sempre podemos respeitar os nossos ciclos naturais...
Agora tem coisas que realmente não dizem respeito aos ciclos naturais, como a depressão.
Não sou terapeuta, mas vejo casos nítidos de depressão que mostram alguma coisa que não condiz com o que a pessoa é. Tenho uma amiga bailarina que quer desistir da profissão. Não quer mais viver na instabilidade artística, quer parar de sofrer mas ao mesmo tempo não consegue mudar de rumo, tentar, por exemplo, abrir uma padaria e fica, estagnada no tempo.
Quando alguém não aceita os talentos naturais e os recusa, a pessoa sofre, é o que percebo.
Mas enquanto isso... luto pelas 2as feiras!

P>S: Gente, sei que esse texto está um pouco confuso. Tem um monte de gente conversando do meu lado atrapalhando minha concentração de escritora. Bem, prometo melhorá-lo depois, tenho que respeitar os ciclos né?

24 de janeiro de 2008

São Jorge, o Dragão e a Lua: Início do Santo Guerreiro...

História

De acordo com a lenda, Jorge teria nascido na antiga Capadócia, região que atualmente pertence à Turquia. Jorge ainda criança, mudou-se para a Palestina com sua mãe após seu pai morrer em batalha. Sua mãe, originária da Palestina, possuia muitos bens e o educou, com todo esmero. Ao atingir a adolescência, Jorge entrou para a carreira das armas, por ser a que mais satisfazia à sua natural índole combativa. Logo foi promovido a capitão do exército romano devido a sua dedicação e habilidade - qualidades que levaram o Imperador a lhe conferir o título de conde da Capadócia. Aos 23 anos passou a residir na corte imperial em Roma, exercendo a função de Tribuno Militar.
Neste tempo sua mãe faleceu e ele, tomando grande parte nas riquezas que lhe ficaram, foi-se para a corte do Imperador. Vendo, Jorge, que urdia tanta crueldade contra os cristãos, parecendo-lhe ser aquele tempo conveniente para alcançar a verdadeira salvação, distribuiu com diligência toda a riqueza que tinha aos pobres. O imperador Diocleciano tinha planos de matar todos os cristãos e no dia marcado para o senado confirmar o decreto imperial, Jorge levantou-se no meio da reunião declarando-se espantado com aquela decisão, e afirmou que os os ídolos adorados nos templos pagãos eram falsos deuses.
Todos ficaram atônitos ao ouvirem estas palavras de um membro da suprema corte romana, defendendo com grande ousadia a fé em Jesus Cristo. Indagado por um cônsul sobre a origem dessa ousadia, Jorge prontamente respondeu-lhe que era por causa da Verdade. O tal cônsul, não satisfeito, quis saber: "O que é a Verdade?". Jorge respondeu-lhe: "A Verdade é meu Senhor Jesus Cristo, a quem vós perseguis, e eu sou servo de meu redentor Jesus Cristo, e Nele confiado me pus no meio de vós para dar testemunho da Verdade."
Como São Jorge mantinha-se fiel ao cristianismo, o Imperador tentou fazê-lo desistir da fé torturando-o de vários modos. E, após cada tortura, era levado perante o imperador, que lhe perguntava se renegaria a Jesus para adorar os ídolos. Todavia, Jorge reafirmava sua fé, tendo seu martírio aos poucos ganhado notoriedade e muitos romanos tomado as dores daquele jovem soldado, inclusive a mulher do imperador, que se converteu ao cristianismo. Finalmente, Diocleciano, não tendo êxito, mandou degolá-lo no dia 23 de abril de 303, segundo a tradição católica, em Nicomédia (Ásia Menor).
Os restos mortais de São Jorge foram transportados para Lídia (Antiga Dióspolis), cidade em que crescera com sua mãe. Lá ele foi sepultado, e mais tarde o imperador cristão Constantino, mandou erguer suntuoso oratório aberto aos fiéis para que a devoção ao santo fosse espalhada por todo o Oriente.
Pelo século V, já havia cinco igrejas em Constantinopla dedicadas a São Jorge. Só no Egito, nos primeiros séculos após sua morte, construíram-se quatro igrejas e quarenta conventos dedicados ao mártir. Na Armênia, em Bizâncio, no Estreito de Bósforo na Grécia, São Jorge era inscrito entre os maiores santos da Igreja Católica.

Disseminação da devoção a São Jorge


Na Itália, era padroeiro da cidade de Gênova. Frederico III da Alemanha dedicou a ele uma Ordem Militar. Na França, Gregório de Tours era conhecido por sua devoção ao santo cavaleiro; o Rei Clóvis dedicou-lhe um mosteiro, e sua esposa, Santa Clotilde, mandou erguer várias igrejas e conventos em sua honra. A Inglaterra foi o país ocidental onde a devoção ao santo teve papel mais relevante.
O monarca Eduardo III colocou sob a proteção de São Jorge a Ordem da Jarreteira, fundada por ele em 1330. Por considerá-lo o protótipo dos cavaleiros medievais, o rei inglês Ricardo I, comandante de uma das primeiras Cruzadas, constituiu São Jorge padroeiro daquelas expedições que tentavam conquistar a Terra Santa dos muçulmanos. No século XIII, a Inglaterra já celebrava o dia dedicado ao santo e, em 1348, criou a Ordem dos Cavaleiros de São Jorge. Os ingleses acabaram por adotar São Jorge como padroeiro do país, imitando os gregos que também trazem a cruz de São Jorge na sua bandeira.
Ainda durante a Grande Guerra, muitas medalhas de São Jorge foram cunhadas e oferecidas aos enfermeiros militares e às irmãs de caridade que se sacrificaram ao tomar conta dos feridos de guerra. As artes, também, divulgaram amplamente a imagem do santo.
Em Paris, no Museu do Louvre, há um quadro famoso de Rafael, intitulado "São Jorge vencedor do Dragão". Na Itália, existem diversos quadros célebres, como um de autoria de Donatello.


São Jorge, o Dragão e a Lua


O dragão (o demônio) simbolizaria a idolatria destruída com as armas da Fé. Já a donzela que o santo defendeu, representaria a província da qual ele extirpou as heresias.
A relação entre o santo e a lua viria de uma lenda antiga que acabou virando crença para muitos. Diz a tradição que as manchas apresentadas pela lua representam o milagroso santo e sua espada pronto para defender aqueles que buscam sua ajuda.

ORAÇÃO À SÃO JORGE

Chagas abertas, sagrado coração, todo amor e bondade e sangue do meu senhor Jesus Cristo no corpo meu se derrame hoje e sempre. Eu andarei vestido e armado com as armas de São Jorge. Para que meus inimigos tendo pés não me alcancem, tendo mãos não me peguem, tendo olhos não me enxerguem e nem pensamentos eles possam ter para me fazerem mal. Armas de fogo o meu corpo não alcançarão, facas e lanças se quebrarão sem ao meu corpo chegar, cordas e correntes se arrebentarão sem o meu corpo amarrarem. Jesus Cristo me proteja e me defenda com o poder de sua santa e divina graça, a Virgem Maria de Nazaré me cubra com o seu sagrado manto me protegendo em todas as minhas dores e aflições e Deus com sua Divina misericódia e grande poder seja meu defensor contra as maldades e perseguições dos meus inimigos. E o Glorioso São Jorge, em nome de Deus, em nome de Maria de Nazaré, em nome da falange do Divino Espírito Santo estenda-me o seu escudo e as suas poderosas armas e que debaixo das patas do seu fiel ginete meus inimigos fiquem humildes e submissos a vós, sem se atreverem a ter um olhar sequer que me possa prejudicar. Assim seja com o poder de Deus e de Jesus e da falange do Divino Espírito Santo. Amém.

CABARÉ MINEIRO

A dançarina espanhola de Montes Claros dança e redança na sala mestiça
Cem olhos morenos estão despindo seu corpo gordo picado de mosquito.
Tem um sinal de bala na coxa direita,o riso postiço de um dente de ouro,mas é linda, linda gorda e satisfeita.
Como rebola as nádegas amarelas!
Cem olhos brasileiros estão seguindo o balanço doce e mole de suas têtas....
(DRUMMOND, Carlos. Alguma Poesia.)

Processos para a Prontidão Cênica

Gente, não sei porque, mas agora me deu vontade de falar sobre o treinamento.
Aos atores me desculpem a grosseria em algumas palavras, mas a meiguice não é o meu forte.
Beijos carinhosos a todos os batalhadores da cena!


Então...
Uma coisa que nós atores nos deparamos a todo momento em sala de ensaio é sobre o treinamento em si. Qual o melhor método, a melhor forma de disponibilizar meu corpo para o trabalho da cena? E, principalmente, de que forma podemos nos precaver de hematomas e otras cositas não muito interessantes que sempre ocorrem com grande parte dos atores?
Temos muitos mestres espalhados pelo mundo: o grande Stanislávski, Grotówski, Brecht, Artaud... todos com o seu legado incontestável para o universo do teatro. Pessoas que realmente dedicaram suas vidas à arte e propuseram o teatro como uma área do conhecimento como as demais.
Porém, eu não suporto quando chega alguém querendo trabalhar dentro dessas metodologias (criadas tão longe de nós brasileiros...) como se fossem as grandes verdades da vida!
Para mim, o treinamento físico existe para potencializar as minhas energias e, principalmente, me resguardar respeitando a fisiologia da minha voz, o meu corpo... já que cada corpo encontra uma melhor forma de se aquecer.
Vejo muitos atores por aí, adorantes do teatro físico, amantes de Grotowski com sérios problemas vocais, tendinites a mil e aí me pergunto: no que o treinamento "ao pé da letra" auxiliou esse ser humano?
Bem, treinamento é uma ferramenta muito importante do ator, acredito piamente nisso e sou uma defensora desde que respeite a nossa fisiologia. Assim como a técnica nos auxilia , mas, ela solitária, apenas a "casca" não ajuda em nada ao ator mostrar seu grande trunfo: a verdade do que está fazendo de "mentirinha" na cena....

23 de janeiro de 2008

Idéias que pegam na maçaneta do pensamento...

Gente... cada dia eu acho mais absurdo a condição de nós artistas. .. fico pensando na seguinte cena: eu, toda empiricata, bonitinha lá no Belas Artes e eu, atriz suja, imunda no estacionamento da escola de engenharia e eu, dona de casa, preocupada com as contas vencidas e muito pior, eu...produtora , tirando leite de pedra para viabilizar a temporada do espetáculo Hotel Açucenas.
É difícil mesmo gente, conciliar tantos eus em uma mesma pessoinha...
Acho que todo artista se pega, ao menos uma vez por dia, com o desejo de abandonar certas idéias... viver na corda bamba é realmente uma arte!
Todo brasileiro sabe disso, mas o artista brasileiro...
melhor como ninguém.

22 de janeiro de 2008

FRAGMENTOS DE UM ARTIGO:


Quando criança minha avó vendia roupas usadas e eu a acompanhava em um local na cidade de Uberaba, Minas Gerais chamado Gogó da Ema. Aos poucos, pude entender tratar-se de um prostíbulo onde escandalosas mulheres amontoavam-se junto às roupas. Acredito que esse foi o meu ponto de partida no universo da prostituição. Ë por isso que, de certo modo, creio que nossas escolhas artísticas se baseiam sempre em fatos que nos marcaram profundamente, principalmente na infância, e que transpomos para o universo da arte.
Muito tempo depois, estava na graduação do curso de Artes Cênicas da Escola de Belas Artes da UFMG quando adentrei-me no sexto período na prática de montagem do curso de bacharelado ministrada pelo professor Luiz Carlos Garrocho. O foco da pesquisa eram os seres marginais da região do baixo centro de Belo Horizonte, dentre estes, as prostitutas. No trabalho de campo, por várias vezes visitei hotéis de prostituição da rua Guaicurus no centro da cidade onde pude gravar vários relatos. O resultado desse processo criativo culminou com a apresentação do trabalho “Fudidos Intervenção Cênica no espaço urbano” em agosto de 2004 no quarteirão fechado da rua Guaicurus. A direção foi do professor Luiz Carlos Garrocho.
Esse trabalho fomentou o desejo de uma pesquisa mais aprofundada sobre a prostituta. Alguns parceiros que têm uma pesquisa dentro desse universo como Lúcio Barros, sociólogo, Francilins, fotógrafo e antropólogo além de Dos Anjos, presidente da Associação das Profissionais do Sexo de Belo Horizonte, permaneceram após a finalização do processo “Fudidos”. Isso tudo impulsionou a elaboração de um projeto para leis de incentivo onde o foco era histórias de vida das prostitutas ou profissionais do sexo, como gostam de serem chamadas; e que resultaria em uma montagem cênica. Em 2005, o projeto foi aprovado na Lei Municipal de Incentivo à cultura de Belo Horizonte.
Trazer esse tema à tona foi sempre um desafio. A sociedade de Belo Horizonte, por mais que saiba de todos os hotéis existentes na rua Guaicurus, prefere ignorar o uso dessas casas antigas. É fato também que a Guaicurus é para a grande maioria das pessoas uma região perigosa, conhecida também pelo tráfico de drogas e por ser onde muitos delinqüentes praticam roubos e assaltos.
Antes de partir para o processo de criação, passei novamente pelo trabalho in loco. Visitas em hotéis, casas de strip-tease e cines pornôs foram realizadas por toda a equipe de montagem: direção, dramaturgia, elenco, cenógrafo e iluminador. Todo esse trabalho tinha o intuito de levar material para a sala de ensaio. Dessa pesquisa, para além das fitas gravadas, ficou em cada um de nós as impressões de cheiros, cores, corpos como mercadorias à venda. Um fato que chamou a atenção de todos foi a quantidade considerável de homens pelos corredores, em pleno horário comercial. A sensação é de que todos os homens que trabalham no centro da cidade freqüentam esses locais.
Esse processo de ir e vir aos hotéis durou um período de dez meses da montagem, sendo que, nos últimos três meses que antecederam à estréia do espetáculo, houve uma diminuição das visitas devido à quantidade de ensaios para finalização do espetáculo.
O trabalho foi realizado em processo colaborativo, ou seja, a dramaturgia foi construída em cena, com as contribuições importantíssimas dos relatos de todas as mulheres com quem tivemos contato e das improvisações de nós atores.
É importante ressaltar que desde o princípio do processo, sempre defrontamos com uma questão: O que queremos dizer do universo da prostituição? Qual o recorte que queremos fazer dentro de um universo tão amplo que aborda sexo, relações entre comércio e mercadorias humanas expostas. Quando finalmente optamos pelo enfoque nas histórias de vida de prostitutas o grande perigo era cair no estereótipo, mulheres que fazem sexo com trinta, quarenta, cinqüenta homens por dia... não, não era disso que queríamos falar, ou melhor, não apenas disso. Cabia a nós desvendar-mos o outro lado, da prostituta não enquanto vítima da sociedade, mas da mulher, filha, mãe e esposa que possuía um passado, um presente e um futuro muitas vezes nem tão promissor, como a maioria das pessoas almeja.

Impressões de uma menina de São Jorge

Há um tempo atrás achava que ter um blog era coisa de gente que não tinha nada para fazer, bem, ou pessoas que tinham um grande desejo de se expressar através das teclas.
Comecei esse ano com uma necessidade de me expressar através da escrita. Não que irei virar uma dramaturga pois sou enérgica demais para o tempo da palavra. Sou da ação. Mas o lado introspectivo me invade às vezes. Bem, acho que todo mundo merece um canto pra sossegar o pensamento né? Espero que seja esse... um espaço também pra falar dos anseios de artista, do nosso processo criativo, de amor e amizade e porque não... do horóscopo do dia.